Aquilo que chamamos de
música pop é erroneamente atribuída ao que é ruim, pois é associada a boa
repercussão de algo no mercado, e isso, muitas vezes, ocasiona uma overdose desnecessária de um bom trabalho. O pop, porém,
é aquilo que é facilmente assimilado por nós, por nossa audição. O que incomoda,
em primeiro instante, é processado como fora dos padrões.
Boa parte do que hoje
entendemos por notação musical começou a ser desenvolvido durante o século VI,
através do sistema estipulado pelo papa Gregório I e o sacerdote Guido D’Arezzo.
As famosas sete notas que nos apresentam
ainda na infância serviram para unificar os estudos musicais, mas também nos
aprisionar em relação ao que pode ser entendido como música.
Esse sistema de códigos
funciona tal como os idiomas, por isso, quando, ao ouvirmos músicas do oriente
- que culturalmente não se baseia na tradição gregoriana - nos deparamos com um
outro universo, um idioma que nossos ouvidos não aprenderam a decifrar. A nós,
o que parece ser um tanto desafinado ou sem ritmo, são muitas vezes construções
musicais diversas e com sons aos quais não nos habituamos.
A música clássica da
Índia é um exemplo de diversidade, ela utiliza um sistema melódico chamado
Raga, que apesar de dar importância as notas não se resume a uma escala.
Os ragas variam de acordo com coisas como os horários de um dia, estações do
ano e até os sentimentos e emoções do músico.
Esses elementos não são
totalmente estranhos a cultura do ocidente, durante os anos 60, no auge da
experimentação, os Beatles se aventuraram por outros universos musicais, incorporando um pouco da cultura indiana em seus tragalhos, e
logo, outras bandas como os Rolling Stones e The Doors também utilizaram um
pouco dessa diversidade em seus trabalhos.
Atualmente, esse estilo
é muito utilizado no cenário de música eletrônica e outros ritmos, mostrando
que a música, apesar de necessitar de alguns códigos, não pode ser limitada a eles.
O trabalho do artista Panjabi MC é um incrível exemplo, unindo o universo do bhangra
(estilo de música tradicional da Índia e Paquistão) com o do hip hop, o músico
alia cítara à batidas eletrônicas, trazendo tanto vocais típicos da tradição do
bhangra quanto do universo do rap.
O inverso também acontece quando nossos ritmos são incorporados pelos orientais. Sempre haverá aqueles que ousarão quebrar a barreira dos códigos impostos, aquilo que é tido como certo. Seja com movimentos políticos como a Tropicália, seja pela constante inquietação de algum artista que aprendeu que o universo da música pode começar com métodos, mas não termina neles. “Para falar errado, precisa saber falar certo”, já que a comparação entre música e idiomas já foi feita, a referência a Adoniran é obrigatória. Quando algo soar errado aos seus ouvidos, talvez seja por que você aprendeu a ouvir somente o que alguém achou que era certo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário